A origem da palavra história é grega (historie) e significa de maneira geral "conhecimento que se adquire através da pesquisa".
O grego Heródoto é considerado o Pai da história por ter sido o primeiro a escrever sobre eventos de maneira metódica, buscando evidências que comprovassem a veracidade.
Para que serve a História? por que estudar história?
-A história não possui a missão de salvar o homem dos erros do passado, impedindo-os de os repetir no presente ou no futuro. Se assim fosse, não teríamos a repetição de regimes tirânicos, políticos demagogos, guerras, etc.
- A história nos auxilia a compreender o que a humanidade construiu ao longo de sua existência e o que as sociedades contribuíram em termos intelectuais, culturais e materiais.
-A história é importante tanto para a vida individual quanto para a vida social, pois é possível entender como o passado influencia o presente, o porquê das coisas serem como são e quais são os melhores modelos de vida, de sociedade e muitas outras possibilidades.
-a história desperta em nós a percepção de que existem culturas diferentes;
-ela contribui para a ampliação das fronteiras da imaginação;
-ela evita o estreitamento do horizonte de consciência, impedindo o provincianismo;
-ela fornece condições para entender as estruturas econômicas, sociais, políticas, religiosas, ideológicas e jurídicas das sociedades ao longo do tempo.
-Há outras áreas do conhecimento que usam princípios da história, mesmo não tendo a formação nesta área: o investigador policial, o perito criminal, o jornalista, o escritor, o cineasta, etc...além disso, todas as áreas do saber possuem sua própria história: história da física, da química, da matemática, da medicina, da engenharia, etc.
Alguns conceitos de História:
A história estuda o ser humano e suas ações ao longo do tempo
A história é o estudo das ações humanas no passado e no presente
A história é a ciência dos homens no tempo
Atribuições da História: O que a história estuda?
-As realizações humanas, boas e ruins
-As mudanças, que são duas: tecnológicas e comportamentais
-As permanências
-A produção cultural, imaterial e material
O que muda de maneira mais rápida: a tecnologia ou os comportamentos?
As mudanças tecnológicas ocorrem de maneira mais rápida do que as comportamentais...isso é explicado pelo desejo humano de ter menos esforço, mais conforto, mais benefícios, etc.
As mudanças comportamentais ocorrem de maneira mais lenta porque dependem dos usos, costumes, tradições, crenças, etc.
Algumas civilizações mudam de comportamento de maneira mais rápida do que outras...o maior exemplo é quando comparamos a civilização ocidental com a islâmica: a ocidental muda de maneira bem mais rápida.
Alguns povos praticamente não mudaram ao longo do tempo devido ao isolamento em que vivem. Temos o exemplo de algumas nações indígenas na Amazônia brasileira.
A produção cultural: todo ser humano é um ser cultural...o ser humano produz cultura...Exemplo: é o único ser que cria e utiliza objetos para se alimentar: gás, eletricidade, fogo, grelhas, micro-ondas, talheres, copos, panelas, condimentos, pratos, etc.
Toda a produção cultural humana ocorre de forma imaterial e material
imaterial: primeiramente, antes de vir ao mundo material, imaginamos, pensamos, projetamos.
material: ocorre quando a ideia se materializa
Exemplos:
-os objetos que o ser humano inventou; primeiramente foram imaginados, depois foram fabricados.
-a casa que alguém sonhou em ter: primeiro ela foi imaginada, depois ela foi construída segundo o que foi projetado.
-a música que alguém compôs: ela existiu primeiro na mente e se materializou quando foram usados instrumentos musicais, partitura, etc.
-samba e frevo fazem parte do patrimônio imaterial do Brasil porque existem primeiramente na mente, traduzem saberes, relações de pertencimento, para sambar ou frevar é preciso primeiro conhecer os passos, ensaiar, etc...e tudo isso ocorre na mente.
Patrimônio Cultural: Um
Povo sem História é um Povo sem Memória...preservar as paisagens, as
obras de arte, as festas populares, a culinária ou qualquer outro
elemento cultural de um povo, é manter a identidade desse povo.
A produção cultural humana dos povos ao longo do tempo resultou na criação de um vasto patrimônio imaterial e material, o qual, na medida do possível dever ser preservado. Essa preservação vai depender do grau de importância que cada povo concede ao seu passado. Esse patrimônio faz parte da identidade cultural de um povo, do seu legado, de sua história.
A importância de se preservar o Patrimônio Histórico está associada à constituição de uma memória coletiva, considerando que é por meio da memória que nos orientamos para compreender o passado, o comportamento de um determinado grupo social, uma cidade ou mesmo uma nação. O estímulo da memória também contribui para a formação de identidade, retomada de raízes, e a compreensão a respeito da situação sociocultural de um povo.
As Fontes Históricas: São documentos, objetos, textos, sons, etc., os quais possuem informações importantes sobre algum período da história, sendo indispensáveis para que se estude o passado.
Tipos de Fontes históricas
a) escritas: textos, discursos, leis, decretos, etc., os quais foram escritos em argila, papiro, pergaminho, pedra, papel, digital, etc.
b) orais: depoimentos, entrevistas, gravações, relatos e histórias contadas por pessoas...incluem-se também as lendas e as tradições que uma geração passa para a outra.
c) Fontes Diretas ou Primárias / Fontes Indiretas ou Secundárias:
Fonte primária é a fonte original da informação, é o primeiro grau da informação...é a fonte original. Exemplo: o livro escrito pelo seu autor. Quando lemos esse livro, estamos consultando a fonte primária ou direta.
Uma fonte Secundária é um documento, imagem ou gravação que discute ou relaciona informações já apresentadas em outros lugares. É o resultado das discussões realizadas no material da fonte primária.
Exemplo: o comentário, o resumo, a resenha ou a reportagem sobre o livro de determinado autor.
d) Fontes Imagéticas: referem-se às imagens, gravuras, desenhos, pinturas, esculturas, filmagens, mosaicos, vídeos, grafitagens, etc. Na pré-história o ser humano já desenhava nas paredes das cavernas as gravuras rupestres.
e) Fontes materiais: são os vestígios físicos das atividades de pessoas humanas. Por exemplo: roupas, móveis, utensílios, ferramentas, armamentos, etc... incluem-se também os objetos e os sítios arqueológicos, fósseis, etc.
O Tempo e a História:
Anacronismo: significa a interpretação do passado realizada a partir de um contexto social, político e cultural dos dias atuais...ou seja, julgamos o passado com base nos valores e ideias atuais...isso acaba por dificultar a compreensão do passado, pois cria uma interpretação desconexa com o conjunto de valores e ideias da época trabalhada. Sendo assim, o anacronismo cria interpretações incoerentes sobre as experiências, questões e modos de vida das sociedades passadas. Isso não significa que vamos defender aquilo que é considerado injusto, desumano ou cruel, mas entender o seu contexto cultural, político e histórico...ou seja, não vamos defender a escravidão nem os que tinham escravos, mas entender porque naquela época se praticava a escravidão ou outra prática inaceitável nos dias atuais.
Exemplos:
- a poligamia de alguns famosos personagens bíblicos do Antigo Testamento.
- a escravidão era uma prática generalizada tanto entre povos europeus na América quanto entre os próprios reinos africanos nos séculos XVI e XVII...a escravidão estava na lei...não havia ideais de liberdade que só surgiriam e se expandiriam a partir do século XVIII.
-as conquistas de povos e territórios por outros povos ao longo de milhares de anos...ainda hoje assistimos essa prática ocorrendo em alguns lugares do mundo.
a) Tempo Cronológico: refere-se à contagem do tempo a partir de eventos marcantes para algumas civilizações. Esses eventos resultaram na criação de CALENDÁRIOS. Abaixo, temos dois dos mais famosos calendários são:
a) Gregoriano: também conhecido como cristão ou ocidental, é o calendário usado atualmente pela maioria dos países, incluindo o Brasil. Tem como base o nascimento de Jesus Cristo...sendo assim, a contagem do tempo é dividida em antes e depois de Cristo.
b) Judaico ou Hebraico: tem como base a criação do mundo de acordo com a tradição religiosa. Em 2024, o calendário hebraico corresponde aos anos 5784 e 5785; o ano 5784 começou no dia 15 de setembro de 2023 e termina no dia 2 de outubro de 2024.
b) Tempo Histórico: tem como base os eventos considerados mais importantes para a história de cada povo, os quais são adotados como datas comemorativas. Exemplos:
a) Independência do Brasil: 07 de setembro
b) Revolução Francesa: 14 de Julho
c) Independência dos EUA: 04 de Julho
c) Tempo de Natureza: é o tempo que alguns povos usam para orientar suas atividades produtivas e suas celebrações, através da observação do clima e das estações do ano... geralmente são povos isolados, nações indígenas.
d) Tempo de Fábrica: é o tempo mais utilizado no mundo, pois tem como base a hora, a carga horária para a realização de diversos tipos de atividades: aulas, treinamentos, trabalho, diversão, etc.
e) Tempo de Informática: é a modalidade mais recente de uso do tempo, o qual inovou a partir da dispensa da presença física dos envolvidos. O maior exemplo são as aulas, treinamentos e atividades realizadas à distância, sem a necessidade da presença física dos envolvidos. Pilotar drones militares, participar de conferências e realizar cirurgias à distância já é uma realidade.
f) Tempo de curta duração: refere-se a um evento que tem data para iniciar e terminar. Exemplos: As Olimpíadas e a Copa do mundo de futebol
g) Tempo de Média duração: são eventos que dependem de um contexto histórico tanto para iniciar quanto para terminar. Sua duração é variável. Exemplo:
- o processo da independência do Brasil, que levou 14 anos, tendo iniciado com a transferência da Corte em 1808 e terminado com o evento do "grito" de independência de Dom Pedro às margens do riacho do Ipiranga, em 1822.
i) Tempo de Longa Duração: são eventos históricos tão comuns que já se incorporaram ao cotidiano da vida de um povo. Exemplos:
- a república, nos países que são republicanos
- o cristianismo, nos países que são cristãos
- a monarquia, nos países que são monárquicos
- o islamismo, nos países que são islâmicos.
Observação importante: para não haver confusão, é preciso distinguir os eventos de longa e média duração:
exemplos:
- a república brasileira é um evento de longa duração, entretanto, o processo do golpe que implantou a república é um evento de média duração
- o Brasil independente é um evento de longa duração, entretanto, o processo da independência é um evento de média duração.
Exercícios
01 - diante de um evento histórico, o papel do historiador deve ser o de chegar a uma definição. Essa definição deve ser concluída tendo como base
a) a pesquisa de diversas opiniões sobre o assunto
b) a criação de uma opinião própria
c) a busca e análise dos fatos
d) aconclusão antecipada
e) abcd estão incorretas
02 - Sobre conceitos e atribuições da história, analise as afirmações e assinale a correta
a) está voltada preferencialmente para o estudo dos grandes fatos políticos, com destaque para a biografia dos governantes.
b) não há uma preocupação com a investigação dos eventos históricos, pois atualmente o mais importante é a compreensão global da história.
c) diferentemente do que ocorreu no século XX, a história atual procura ter um novo olhar crítico, desvinculado das demais ciências humanas.
d) O estudo das fontes e a crítica dos documentos são partes fundamentais do processo de produção historiográfica.
e) tudo pode e deve ser criticado o tempo todo, mesmo que sejam críticas anacrônicas, infundadas ou superficiais.
03 - Analise os eventos abaixo e assinale os que se são classificados como de média duração:
a) Revolução Pernambucana de 1817 e as Olimpíadas
b) Independência do Brasil e a Copa do mundo de Futebol
c) II Guerra mundial e Independência do Brasil
d) O 11 de setembro e a independência do Brasil
e) a monarquia inglesa e a Revolução francesa
04 - Situação I: Ao conferirmos a hora para realizar nossas atividades, estamos usando o tempo cronológico.
Situação II: O tempo é algo maior do que um simples horário ou dia da semana...é também
De acordo com as duas situações, podemos afirmar que
a) as duas nos falam sobre o tempo cronológico.
b) as duas nos falam sobre o tempo histórico.
c) a situação I trata do tempo histórico e a situação II do tempo cronológico.
d) a situação I trata do tempo cronológico e situação II do tempo histórico.
e) abcd estão incorretas
05 - A história, dentre outras utilidades, serve para compreender as experiências sociais, culturais, tecnológicas, políticas e econômicas vividas pelos povos ao longo do tempo. Sobre o papel que a história tem na formação da cidadania, assinale a alternativa correta.
a) seu ensino não apenas contribui para o desenvolvimento da consciência, mas dá suporte à construção da própria identidade do indivíduo.
b) sua principal importância está na criação de uma consciência coletiva de obediência cega do povo aos ditadores comando de líderes populistas, demagogos, enganadores e tomada do poder pelos ditadores às leis a fundamentação teórica que incita a obediência às leis foi a principal contribuição da história na formação cidadã.
c) A história, em uma visão contemporânea, passou a ter como prioridade o estudo do presente, dando ao passado um caráter arcaico e antiquado, dispensável à pesquisa histórica.
d) A história como ciência básica e fundamentalmente teórica incide de forma relativa e tênue nas atividades práticas da vida humana, tendo, portanto, neutralidade em relação à política.
06) Sobre a questão do Anacronismo na história, podemos afirmar que o correto é
a) estudar e interpretar o passado a partir dos nossos valores e conceitos atuais.
b) estudar o passado a partir de seu contexto cultural, político e social, mesmo não concordando, mas entendendo que eram tempos bem diferentes dos dias atuais
c) ter uma visão atualizada do passado, mesmo sendo desconexa com o conjunto de valores e ideias daquela época
d) abc estão corretas
e) abc estão incorretas
07) É considerado como evento de Longa duração
a) o processo histórico da independência do Brasil
b) o golpe militar que implantou a república
c) o cristianismo no Brasil
d) abc estão corretas
e) abc estão incorretas
08) Sobre patrimônio cultural, assinale a alternativa FALSA:
a) A preservação da cultura de um povo depende da proteção que se dá ao seu patrimônio material e imaterial
b) A proteção da cultura material e imaterial depende exclusivamente dos governantes.
c) O patrimônio histórico é um legado deixado pelos mais velhos para as novas gerações.
d) O que determina se um bem cultural será ou não um patrimônio cultural são a sua importância e contribuição para a cultura e história de um povo.
e) abcd estão incorretas
09) Sob a definição de “patrimônio material” encontram-se:
a) as lendas, músicas, canções e narrativas.
b) as expressões e movimentos artísticos.
c) os instrumentos, objetos e vestimentas.
d) as técnicas de artesanato e saberes orais.
e) abcd estão incorretas
10) Sobre a utilidade da História, analise as afirmações e assinale a correta:
a) a história só tem utilidade na sala de aula
b) história é uma área do conhecimento que só é útil para fins educacionais
c) a história aplica-se a diversas áreas do conhecimento
d) a história não tem utilidade prática
e) abcd estão incorretas
Este artigo de Zbigniew Kowalewski sobre o imperialismo russo foi publicado originalmente em novembro de 2014 no Le Monde diplomatique – edição polonesa.
Resumo: A restauração do capitalismo na Rússia complementou e substituiu em parte os monopólios extra-econômicos, enfraquecidos e amputados após a desintegração da União Soviética, por um poderoso monopólio financeiro fundido com o aparato estatal. O imperialismo russo, reconstruído nesta base, permanece um fenômeno intrinsecamente interno e externo; ele opera em ambos os lados das fronteiras do país, que estão novamente se tornando móveis. Não podemos compreender a atual crise ucraniana – a anexação da Crimeia, a rebelião separatista em Donbas e a agressão russa contra a Ucrânia – se não compreendermos que a Rússia continua sendo uma potência imperialista.
Sergey Nikolsky, um filósofo cultural russo, diz que talvez a ideia mais importante para os russos “desde a queda da Bizâncio até agora é a ideia de império e o fato de sermos uma nação imperial”. Sempre soubemos que vivemos em um país cuja história é uma cadeia ininterrupta de expansão territorial, conquista, anexação, defesa dos bens, perdas temporárias e novas conquistas. A ideia de império era uma das mais apreciadas em nossa bagagem ideológica e isto é o que proclamamos a outras nações. Com ela surpreendemos, encantamos ou enlouquecemos o resto do mundo”.
A primeira e mais importante característica do império russo sempre foi, diz Nikolsky, “a maximização da expansão territorial em nome de seus interesses econômicos e políticos, como um dos grandes princípios da política estatal”. [1] Esta expansão foi o resultado da predominância permanente e esmagadora do desenvolvimento extensivo da Rússia sobre seu desenvolvimento intensivo: a predominância da exploração absoluta dos produtores diretos sobre sua exploração relativa, ou seja, baseada no aumento da produtividade da mão-de-obra.
“O império russo foi chamado de ‘prisão dos povos’. Hoje sabemos que não é apenas o estado Romanov que merece esta descrição”, escreveu Mikhail Pokrovsky, o principal historiador bolchevique. Ele mostrou que o Grão-Ducado moscovita (1263-1547) e o Czarado russo (1547-1721) já eram “prisões de povos” e que esses estados foram construídos sobre os cadáveres dos inorodtsy, os povos indígenas não-russos. “É duvidoso que o fato de 80% do sangue que corre nas veias dos grandes russos seja seu sirva de consolo para os sobreviventes. Somente a destruição completa da opressão imperial russa por aquela força que lutou e ainda luta contra toda a opressão poderia ser uma forma de compensação por tudo o que eles sofreram”. [2] Estas palavras de Pokrovsky foram publicadas em 1933, pouco depois de sua morte e pouco antes da ordem de Stalin de substituir, na histórica formulação bolchevique de “Rússia – prisão dos povos”, a primeira palavra por uma diferente: czarismo. O regime stalinista apressou-se então a rotular o trabalho científico de Pokrovsky como uma “concepção anti-marxista” da história russa. [3]
Feudalismo militar imperialista
Ao longo dos séculos, até o colapso da União Soviética em 1991, os povos que foram conquistados e anexados pela Rússia sofreram três formas sucessivas de dominação imperialista. O “imperialismo militar feudal”, como Lenin o chamou, foi o primeiro. Não é sem interesse comentar qual foi o modo predominante de exploração naquele período: feudal ou tributária, ou, como prefere Yuri Semyonov, “politerária” [4]. Esta controvérsia é intensificada pela mais recente pesquisa de Alexander Etkind. Deles emerge que na realidade, os modos coloniais de exploração predominaram: “O império russo foi um grande sistema colonial tanto em suas fronteiras distantes como em suas sombrias profundezas, […] um império colonial como a Grã-Bretanha ou a Áustria, e um território colonizado como o Congo ou as Índias Ocidentais”, porque “ao expandir-se para espaços enormes, a Rússia colonizou seu próprio povo. Foi um processo de colonização interna, a colonização secundária de seu próprio território”.
É por isso, diz Etkind, que devemos “entender o imperialismo russo como um processo interno, não apenas externo” [5]. A escravidão lá era de caráter tão colonial quanto a escravidão negra na América do Norte, mas também afetava os grandes camponeses russos e outros que o czarismo considerava “russos”: os “pequenos russos” (ucranianos) e os “russos brancos” (bielorrussos). Etkind chama a atenção para o fato de que mesmo na Grande Rússia as revoltas camponesas eram de caráter anticolonial e que as guerras com as quais o império esmagou essas insurreições foram guerras coloniais. Paradoxalmente, o centro imperial da Rússia era ao mesmo tempo uma periferia colonial interna, dentro da qual a exploração e opressão das massas do povo era às vezes mais intensa do que em muitas periferias conquistadas e anexadas.
Quando “o imperialismo capitalista moderno” apareceu, Lênin escreveu que no império czarista ele estava “envolvido, por assim dizer, em uma rede particularmente densa de relações pré-capitalistas”, tão densa que “em geral, o imperialismo militar feudal predomina na Rússia”. Assim, ele escreveu, na Rússia “o monopólio do poder militar, do imenso território ou de instalações especiais para desapossar os povos indígenas não-russos, a China, etc., em parte complementa e em parte substitui o monopólio do capital financeiro mais moderno” [6]. Ao mesmo tempo, sendo o imperialismo das seis grandes potências menos desenvolvidas, não era mais do que um subimperialismo. Como Trotsky assinalou, “a Rússia pagou nesta moeda o direito de ser aliada dos países avançados, de importar seus capitais e de pagar juros sobre eles; ou seja, ela pagou, no fundo, o direito de ser uma colônia privilegiada de seus aliados e, ao mesmo tempo, de exercer sua pressão sobre a Turquia, Pérsia, Galiza, países mais fracos e mais atrasados do que ela mesma, e de saqueá-los. No fundo, o imperialismo da burguesia russa, com sua dupla face, nada mais era do que um agente mediador de outras potências mundiais mais poderosas”. [7]
Não há descolonização sem separação
Foram precisamente os poderosos monopólios extra-econômicos mencionados por Lenin que asseguraram a continuidade do imperialismo russo após a derrota o capitalismo na Rússia após a Revolução de Outubro. Ao contrário da afirmação anterior de Lênin de que a norma da revolução socialista seria a independência das colônias, na verdade somente se separam da Rússia as colônias que não foram alcançadas pela expansão da revolução ou aquelas que a rejeitaram. Em muitas regiões periféricas, esta expansão teve o caráter de uma “revolução colonial” liderada por colonos e soldados russos sem a participação dos povos oprimidos e mesmo mantendo de fato as relações coloniais existentes. Georgi Safarov descreveu um processo tal se experimentou na revolução no Turquestão [8]. Em outras regiões a revolução tomou a forma de conquista militar, e alguns bolcheviques, como Mikhail Tukhachevsky, improvisaram rapidamente uma teoria militarista de “revolução desde fora” [9].
A história da Rússia soviética desmente a tese dos bolcheviques de que, com a queda do capitalismo, as relações de domínio colonial de alguns povos sobre outros desapareceriam e que, consequentemente, esses povos poderiam, ou mesmo deveriam, permanecer dentro da estrutura de um único Estado. O “economismo imperialista”, que negou o direito dos povos à autodeterminação e que foi generalizado (embora criticado por Lenin) entre os bolcheviques russos, foi uma manifestação extrema deste fenômeno. Na realidade, é exatamente o contrário: a separação estatal de um povo oprimido é uma condição necessária para a destruição das relações coloniais, mesmo que não a garanta. Vasyl Shakhrai, um militante bolchevique da revolução ucraniana, entendeu isso já em 1918, quando polemizava publicamente com Lênin sobre esta questão[10]. Muitos outros comunistas não-russos também o entenderam na época, notadamente o líder da revolução tártara, Mirsaid Sultan-Galiyev, o primeiro comunista a ser afastado da vida política pública por ordem de Stalin em 1923.
Na realidade, o imperialismo baseado nos monopólios extra-econômicos acima mencionados se auto-reproduzia de muitas maneiras, espontânea e despercebida, mesmo quando perdia sua base especificamente capitalista. Assim, como mostraria Trotsky, nos anos 20 Stalin “tornou-se o vetor da opressão burocrática da Grão-Rússia” e rapidamente “obteve vantagens para o imperialismo burocrático da Grão-Rússia” [11]. Com o estabelecimento do regime estalinista, o domínio imperialista da Rússia foi restaurado sobre todos aqueles povos, anteriormente conquistados e colonizados, que permaneceram dentro das fronteiras da União Soviética, onde representavam metade da população, e sobre os novos protetorados, Mongólia e Tuva.
A ascensão do imperialismo burocrático
Esta restauração foi acompanhada de violência policial assassina e até mesmo de verdadeiros genocídios: o extermínio pela fome conhecido na Ucrânia pelo nome de Holodomor e no Cazaquistão pelo de Shasandy Asharshylyk (1932-1933). Os quadros indígenas bolcheviques e a intelligentsia foram exterminados e a russificação intensiva foi posta em marcha. Pequenas nações e minorias nacionais inteiras foram deportadas (a primeira grande deportação em 1937 foi a dos coreanos que viviam no Extremo Oriente soviético). O colonialismo interno se expandiu mais uma vez e “a mais terrível dessas práticas foi a exploração dos prisioneiros no Gulag, que pode ser chamada de forma extrema de colonização interna” [12]. Como na era czarista, a emigração da população russa e de língua russa para as periferias acalmou as tensões e as crises sócio-econômicas na Rússia, garantindo ao mesmo tempo a russificação das repúblicas periféricas. Superpovoado, empobrecido e atormentado pela fome após a coletivização forçada, o campo russo exportou mão-de-obra em massa para os novos centros industriais nas periferias da União Soviética. Ao mesmo tempo, as autoridades impediram a migração da população local não-russa do campo para as cidades.
A divisão colonial do trabalho distorceu e até retardou o desenvolvimento, e em alguns casos até transformou as repúblicas não russas e regiões periféricas em fontes de matérias-primas e zonas de monocultura. Foi acompanhada por uma divisão colonial entre cidade e campo, trabalho manual e intelectual, mão-de-obra qualificada e não qualificada, bem remunerada e mal remunerada, e uma estratificação igualmente colonial da burocracia estatal, da classe trabalhadora e de sociedades inteiras. Estas divisões e estratificações garantiram ao elemento etnicamente russo ou russificado uma posição social privilegiada com respeito ao acesso à renda, qualificações, prestígio e poder nas repúblicas periféricas. O reconhecimento da “russividade” étnica ou lingüística na forma de “salários públicos e psicológicos” – um conceito emprestado por David Roediger da W.E.B. Du Bois e aplicado em seus estudos sobre a classe trabalhadora americana branca [13] – tornou-se um importante meio de dominação imperialista russa ou a construção de uma “russividade” imperialista dentro da própria classe trabalhadora soviética.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o envolvimento da burocracia estalinista na luta por uma nova divisão do mundo foi uma extensão da política imperialista interna. No decorrer da guerra e depois que ela terminou, a União Soviética recuperou muito do que a Rússia havia perdido após a revolução e também conquistou novos territórios. Sua área territorial cresceu em 1,2 milhões de quilômetros quadrados, para 22,4 milhões de quilômetros quadrados. Após a guerra, o território da URSS era 700.000 quilômetros quadrados maior que o do império czarista quando estava prestes a ruir, e 1,3 milhões de quilômetros quadrados menor que o império no auge de sua expansão em 1866, logo após a conquista do Turquestão e pouco antes da venda do Alasca.
A luta por uma nova divisão do mundo
Na Europa, a União Soviética anexou as regiões ocidentais de Belarus e Ucrânia, Cárpatos-Ucrânia, Bessarábia, Lituânia, Letônia, Estônia, partes da Prússia Oriental e Finlândia, e na Ásia, Tuva e as Ilhas Kuril do sul. Ela passou a controlar toda a Europa Oriental e postulou que a Líbia deveria ficar sob sua tutela. Ela procurou impor um protetorado sobre duas grandes províncias fronteiriças chinesas, Xinyiang e Manchuria. Além disso, ele procurou anexar o norte do Irã e o leste da Turquia, com base no desejo de libertação e unificação de muitas nacionalidades locais. Segundo o historiador azerbaijanês Jamil Hasanli, a “guerra fria” começou na Ásia, não na Europa, em 1945 [14].
“O caráter parasitário da burocracia se manifesta, assim que as condições políticas permitem, sob a forma de pilhagem imperialista”, escreveu na época Jean van Heijenoort, ex-secretário de Trotsky e futuro historiador da lógica matemática. “O aparecimento de elementos do imperialismo implica que a teoria de que a URSS é um estado degenerado de trabalhadores tem que ser revista? Não necessariamente. A burocracia soviética é geralmente alimentada pela apropriação do trabalho de outros, e há muito reconhecemos este fato como inerente à degeneração do estado dos trabalhadores. O imperialismo burocrático é apenas uma forma especial desta apropriação” [15].
Os comunistas iugoslavos se convenceram rapidamente de que Moscou “queria subordinar completamente a economia da Iugoslávia e transformá-la em um mero coadjuvante no fornecimento de matérias-primas à União Soviética, o que dificultaria a industrialização e interromperia o desenvolvimento socialista do país” [16]. As “joint ventures” soviético-jugoslavas destinavam-se a monopolizar a exploração dos recursos naturais da Iugoslávia, necessários à indústria soviética. O comércio desigual entre os dois países asseguraria lucros extraordinários para a economia soviética em detrimento da economia iugoslava.
Após a ruptura da Iugoslávia com Stalin, Josip Broz Tito disse que após o Pacto Molotov-Ribbentrop (1939), e especialmente após a conferência dos “três grandes” em Teerã (1943), a URSS participou da divisão imperialista do mundo e “avançou conscientemente pelo antigo caminho czarista do expansionismo imperialista”. Ele também disse que “a teoria do povo líder dentro de um Estado multinacional”, proclamada por Stalin, “não é nada mais que a expressão da subjugação de fato, da opressão nacional e do saque econômico de outros povos e países pelo povo líder” [17]. Em 1958, Mao Tse Tung observou ironicamente em uma discussão com Nikita Khrushchev: “Havia um homem chamado Stalin que tomou Port Arthur e transformou Xinjiang e Manchuria em semicolônias, e também criou quatro sociedades mistas. Todas estas foram suas boas ações” [18].
A União Soviética à beira da desintegração
O imperialismo burocrático russo contava com poderosos monopólios extra-econômicos, reforçados pelo poder totalitário e, portanto, de caráter não econômico. Como resultado, revelou-se muito fraco ou totalmente incapaz de realizar os planos estalinistas de explorar os países satélites da Europa Oriental e as regiões fronteiriças da China Popular. Diante da crescente resistência nesses países, a burocracia de Moscou teve que abandonar a ideia de “sociedades mistas”, de comércio desigual e da divisão colonial do trabalho que procurava impor. Após a perda da Iugoslávia, a partir de 1948 perdeu gradualmente o controle político sobre a China e alguns outros países e teve que afrouxar seu controle sobre outros.
Dentro da própria URSS, os monopólios extra-econômicos também se mostraram incapazes de assegurar o domínio imperialista de longo prazo da Rússia sobre as grandes repúblicas periféricas. A industrialização, a urbanização, o desenvolvimento da educação e mais geralmente a modernização das periferias da União Soviética, bem como a crescente “nacionalização” de sua classe trabalhadora, da inteligência e da própria burocracia, começaram gradualmente a mudar o equilíbrio de poder entre a Rússia e as repúblicas periféricas em favor destas últimas. O controle de Moscou sobre as repúblicas periféricas estava enfraquecendo e a crescente crise do sistema acelerou o processo, que começou a desintegrar a União Soviética. Contramedidas centrais – como o derrube do regime de Petro Shelest na Ucrânia (1972), descrito como “nacionalista” pelo Kremlin – não conseguiram reverter a situação ou mesmo interromper efetivamente o processo.
Durante a segunda metade da década de 1970, o jovem sociólogo soviético Frants Sheregui tentou observar a realidade da URSS à luz da “teoria da classe marxista combinada com a teoria dos sistemas coloniais”. Ele concluiu que “a extensão gradual da intelligentsia e da burocracia (funcionariado) nacionais [isto é, autóctones – zmk] nas repúblicas não russas, o crescimento da classe trabalhadora – em suma, a formação de uma estrutura social mais progressista – levaria as repúblicas nacionais a se separarem da URSS”. Alguns anos mais tarde, encomendado pelas mais altas autoridades do Partido Comunista Soviético, ele analisou a situação social das equipes de jovens mobilizados pela Komsomol (Juventude Comunista) em todo o país para a construção da ferrovia Baikal-Amur, a famosa “obra do século”. “Eu estava curioso”, diz Sheregui, “sobre a contradição que descobri entre as informações sobre a composição internacional dos operários da construção civil, truncadas pela propaganda oficial, e o alto grau de uniformidade nacional das brigadas de trabalhadores que chegaram”. Eles eram compostos quase inteiramente de pessoas etnicamente russas e de língua russa. “Cheguei então à conclusão inesperada de que os russos (e ‘falantes de russo’) estavam sendo deslocados fora das repúblicas nacionais” pelas chamadas nacionalidades titulares, tais como os cazaques no Cazaquistão.
Isto foi confirmado em seus estudos de dois outros grandes projetos na Rússia. “O governo central sabia disso e estava envolvido no reassentamento dos colonos russos, financiando ‘projetos de engenharia de choque’. Assim, concluí que, devido ao esgotamento dos fundos sociais das repúblicas nacionais, havia escassez de empregos, mesmo para os representantes das nacionalidades titulares, onde havia garantias sociais (creches, acampamentos de férias, sanatórios, oportunidades de moradia); tais situações poderiam levar a antagonismos inter-étnicos, de modo que as autoridades gradualmente “repatriavam” jovens russos que viviam nas repúblicas nacionais. Então percebi que a União Soviética estava prestes a explodir em pedaços”. [19]
Império Militar-Colonial
A crise do regime burocrático soviético e do imperialismo russo foi tão profunda que, para surpresa de todos, a URSS entrou em colapso em 1991, não apenas sem uma guerra mundial, mas nem mesmo uma guerra civil. A Rússia perdeu suas periferias externas, já que 14 repúblicas não russas da União a deixaram e proclamaram sua independência: todas aquelas que, de acordo com a Constituição Soviética, tinham esse direito. Isto resultou em uma perda de territórios – sem precedentes na história russa – totalizando 5,3 milhões de quilômetros quadrados. Entretanto, como Boris Rodoman, um eminente cientista que criou a escola russa de geografia teórica, salientou, a Rússia permanece hoje “um império militar-colonial que é mantido ao preço de um desperdício desenfreado de recursos naturais e humanos, um país de desenvolvimento extensivo no qual o uso extremamente esbanjador e dispendioso da terra e da natureza é um fenômeno comum”. Neste campo, assim como no que diz respeito à “migração de populações, relações mútuas entre grupos étnicos, entre a população local e migrantes em várias regiões, entre autoridades estatais e populações, as características “clássicas” do colonialismo ainda estão vivas, como no passado”.
A Rússia continua a ser um Estado multinacional composto por 21 repúblicas não russas, cobrindo quase 30% do seu território. Rodoman escreve que “no nosso país temos um grupo étnico que leva o seu nome e fornece a língua oficial, bem como muitos outros grupos étnicos; alguns deles gozam de autonomia nacional-territorial, mas não têm o direito de abandonar esta pseudo-federação, ou seja, são forçados a permanecer no mesmo. Cada vez com mais frequência, a necessidade de unidades administrativas estabelecidas segundo linhas étnicas é questionada; o processo da sua liquidação começou com os distritos autónomos. Contudo, quase todos os povos não-russos não viveram na Rússia em resultado da imigração, não se mudaram para um Estado russo existente, mas pelo contrário: são nacionalidades subjugadas por este Estado, deslocadas, parcialmente exterminadas, assimiladas ou cujo estatuto de Estado foi retirado. Neste contexto histórico deve ser considerado que as autonomias nacionais, mesmo até que ponto elas são reais e até que ponto são apenas nominais, constituem uma recompensa moral para as comunidades étnicas que sofreram um “trauma de subjugação”. No nosso país, os pequenos povos que não gozam de autonomia nacional ou cuja autonomia foi retirada desaparecem rapidamente (por exemplo, os Vepsios e os Shors). As comunidades étnicas indígenas, que no início da era soviética estavam em maioria nas suas autonomias, estão agora em minoria, devido à colonização ligada à apropriação de recursos naturais, construção em grande escala, industrialização e militarização. O desenvolvimento de “terras virgens”, a construção de portos e centrais eléctricas nas repúblicas bálticas, etc., não foram apenas por razões económicas, mas também para russificar as periferias da União Soviética. Após o seu colapso, as guerras típicas para preservar colónias num império em desintegração são os conflitos armados no Cáucaso, cujos povos se tornaram reféns da política imperial conduzida de acordo com o princípio de dividir para reinar. A extensão da esfera de influência no mundo, incluindo a reincorporação de antigas partes da URSS a esta esfera, é hoje a prioridade da política externa russa. Nos séculos XVIII e XIX na Rússia czarista, as tribos nômades concordaram em tornar-se súbditos russos, pelo que as suas terras se tornaram automaticamente terras russas. A Rússia pós-soviética entrega passaportes russos aos habitantes dos países vizinhos”… [20]
Restauração do imperialismo capitalista
A restauração do capitalismo na Rússia complementou e substituiu em parte os monopólios extra-económicos, enfraquecido e amputado após a desintegração da União Soviética, por um poderoso monopólio financeiro fundido com o aparelho de Estado. O imperialismo russo, reconstruído nesta base, continua a ser um fenómeno intrinsecamente interno e externo; opera de ambos os lados das fronteiras do país, que estão de novo a tornar-se móveis. As autoridades russas criaram uma mega-empresa estatal que tem o monopólio da colonização interna da Sibéria Oriental e do Extremo Oriente. Estas regiões têm depósitos de petróleo e outros minerais. Também gozam de acesso privilegiado a novos mercados globais na China e no Hemisfério Ocidental.
É possível que estas duas regiões partilhem o destino da Sibéria ocidental. “O centro federal reserva para si quase todas as receitas petrolíferas da Sibéria Ocidental, sem afectar fundos à região, mesmo para a construção de estradas normais”, escreveu a jornalista russa Artem Yefimov há alguns anos. “O problema, como sempre, não é a colonização, mas o colonialismo”, porque “é a exploração econômica e não a melhoria e o desenvolvimento do território que a referida empresa procura. […] É basicamente uma admissão do fatto de que no país, ao mais alto nível do Estado, reina o colonialismo. A semelhança desta empresa com a East India Company e outras empresas coloniais europeias dos séculos XVII a XIX é tão óbvia que até pode ser engraçada” [21].
Há um ano, a revolta em massa dos ucranianos na Maidan de Kiev, que culminou com o derrube do regime Yanukovych, foi uma tentativa da Ucrânia de quebrar para sempre a relação colonial que historicamente a ligava à Rússia. Não podemos compreender a actual crise ucraniana – a anexação da Crimeia, a rebelião separatista em Donbas e a agressão russa contra a Ucrânia – sem compreender que a Rússia continua a ser uma potência imperialista.
Referências
[1] S.A. Nikolsky, „Russkiye kak imperskiy narod”, Politicheskaya Kontseptologuiya, no. 1, 2014, p. 42-43.
[2] M.N. Pokrowsky, Istoricheskaya nauka i bor´ba klassov, Moskva – Leningrad: Sotsekizd, 1933, vol. I, p. 284.
[3] A.M. Dubrovsky, Istorik i vlast´, Briansk: Izd. Brianskogo Gosudarstvennogo Universiteta, 2005, p. 238, 315-335.
[4] Véase J. Haldon, The State and the Tributary Mode of Production, London – New York: Verso, 1993; Yu.I. Semiónov, Politarnyi (‘azyatskiy’) sposob proizvodstva: Sushchnost´ i mesto v istorii chelovechestva i Rossii, Moskva: Librokom, 2011.
[5] A. Etkind, Internal Colonization: Russian Imperial Experience,Cambridge-Malden: Polity Press, 2011, p. 23-24, 26, 251.
[6] V.I. Lenin,Polnoe sobranie sochineniy,Moskva: Izd. Politicheskoy Literatury, 1969- 1973, vol. XXVI, p. 318; vol. XXVII, p. 378; vol. XXX, p. 174.
[7] L. Trotsky,Historia de la Revolución Rusa,Madrid: Fundación Federico Engels, 2007, p. 35.
[8] G. Safarov, Kolonialnaya revolutsiya: Opyt Turkestana, Moskva: Gosizdat, 1921.
[9] M. Tujachevsky, Voyna klassov, Moskva: Gosizdat, 1921, p. 50-59. Em inglês: M. Tukhachevsky, ,“Revolution from Without”, New Left Review,no. 55, 1969.
[10] S. Mazlakh, V. Shakhrai,On the Current Situation in the Ukraine,Ann Arbor: University of Michigan Press, 1970.
[11] L. Trotsky, Stalin, Petersburg: Lenizdat, 2007, vol. II, p. 189.